domingo, agosto 05, 2012

COMO INTERNACIONALIZAR AS EMPRESAS PORTUGUESAS EM TEMPO DE FALTA DE CRÉDITO E DE CAPITAL


Tem sido inúmeros, nos últimos tempos, os apelos à emigração e à internacionalização das empresas portuguesas, especialmente por via da instalação de filiais ou de sociedades por elas controladas, no estrangeiro.
Ainda num dia destes, numa entrevista a um jornal, o secretário de Estado das Comunidades, José Cesário, incentivava os empresários portugueses a procurar parceiros na diáspora, no mesmo sentido da mensagem do primeiro ministro.
Depois de ter aconselhado os jovens a emigrar, o governo português diz o mesmo às empresas, como se pretendesse que o país ficasse devoluto.
            A diáspora portuguesa tem um enorme potencial, mas não me parece que haja condições para que empresários falidos ou em dificuldades encontrem parceiros no estrangeiro, aproveitando a afinidade de ser português.
         A maior parte dos  pequenos e médios empresários portugueses que procura soluções no estrangeiro integra a fileira da construção civil, que é aquela que sofreu o mais rude golpe com a crise.
          A sua maior dificuldade reside no facto de não disporem de capital e de, quase sistematicamente, terem as fichas de crédito sujas pelos bancos que agora lhes recusam apoio financeiro e por bases de dados, onde não é possivel discernir se as pretensões dos credores são razoáveis ou não.
            É hoje possivel, em qualquer país do mundo, ter um recorte imediato das informações relativas a um empresário ou a uma empresa, ocorrendo, com frequência, que a informação negativa se mantém, mesmo depois de regularizadas as dividas.
            Os empresários portugueses que têm sucesso no estrangeiro manifestam, por regra, uma grande abertura à ideia de ajudar outros portugueses, que com eles se queiram associar, em projetos que se afigurem viáveis. Mas, também  por regra, não estão dispostos a aventurar relações com quem não tenha capital e, sobretudo, com quem tenha o nome sujo.
            Empresas de qualquer dimensão, que tenham negócios próprios, sustentáveis e viáveis, à luz das regras dos mercados para onde tenham a intenção de migrar, só terão sucesso se prepararem muito cuidadosamente os seus projetos e se dispuserem de recursos suficientes para o seu desenvolvimento.
            A imagem de Portugal no exterior – especialmente nos paises de lingua portuguesa – é muito negativa, como se o país estivesse já a morrer de fome e se dele saissem hordas de emigrantes, que já justificam cuidados especiais nas fronteiras.
            No Brasil, por exemplo, já há, nalguns aeroportos, restrições à entrada de portugueses, desde que eles não informem do hotel em que se vão alojar e dos recursos de que dispõem para passar algum tempo no país.
            Embora fosse justo que os brasileiros agissem assim, porque ainda hoje é são assim tratados os brasileiros que chegam aos aeroportos portugueses, é minha convicção que as autoridades só atuam deste modo para evitar que os miseráveis portugueses se juntem aos que existem no próprio país e que inundam de sem abrigo as ruas das grandes cidades.
            É absolutamente compreensível e justificável que as autoridades do Brasil sejam cautelosas, até porque não é verdadeira a imagem que se tem do Brasil em Portugal.
            Não há lugar para todos nem há oportunidades para todos. Sobretudo, não há qualquer oportunidade para quem queira investir sem ter dinheiro suficiente para alavancar o seu projeto.
            Para além disso, o investimento no Brasil é dificultado por processos  burocráticos complexos, que não admitem pressas nem atropelos e que têm custos enormes para quem não tem condições próprias de instalação.
            Os quadros não são diferentes em Angola ou Moçambique.
           Tudo isto é do conhecimento das autoridades portuguesas que, todavia, insistem na conveniência de processos de internacionalização por via do investimento português no estrangeiro.
           Ora, na atual conjuntura há excelentes condições para a internacionalização das nossas empresas por via de fusões e aquisições das empresas portuguesas com/por empresas estrangeiras. E o governo português age como quem quer ocultar esta realidade, talvez com a intenção de destruir completamente a economia portuguesa, deixando o lugar livre para as empresas estrangeiras representadas pelos seus apaniguados.
            Em Portugal, há milhares de empresas, em todas as áreas, que são viáveis, desde que saneadas financeiramente. Muitas delas têm equipamentos novos ou quase novos, que serão reduzidos a sucata, se os respetivos parques forem desmantelados. Com isso agravar-se-ão os prejuizos do setor financeiro, que já começaram a ser suportados pelos contribuintes, por valores astronómicos (cerca de 9.000 milhões só no que se refere ao BPN).
            Para além de o desmantelamento de uma empresa ter custos enormes, há muitos paises que não aceitam a importação de bens de equipamentos usados, pelo que o mais interessante é revitalizar as empresas no local em que se encontram instaladas.
            Parece-me evidente que, ao invés de incentivar os empresários portugueses, quase todos à beira da falência, a emigrar levando uma mão à  frente e outra atrás, deveriam o governo e as agência governamentais promover a participação de empresas estrangeiras na recuperação de empresas portuguesas que se encontram descapitalizadas.
            É certo que os salários em Portugal são ainda ligeiramente superiores aos de países como a China ou o Brasil, mas, após a últimas alterações ao Código do Trabalho, os niveis do garantismo laboral passaram a situar-se abaixo dos do tempo da ditadura, aproximando-se, a passos largos da desproteção que vigora no Oriente.
            As empresas portuguesas são especialmente interessantes para as brasileiras.
            Queiramos ou não, a lingua assume neste quadro um papel  de grande relevo, pois que é o mais importante instrumento de trabalho nas fábricas.
            De outro lado, Portugal é – se não acabarem com ele – um país moderno, com uma qualidade de ensino público muito acima da do sistema brasileiro e com um sistema de saúde que, sendo tão bom como os serviços privados brasileiros, é gratuito.
            O Brasil é um mercado com quase 200 milhões de habitantes, mas Portugal é a porta de entrada de um mercado com perto de 500 milhões, o da União Europeia.
            Um apartamento em Lisboa custa uma renda de menos de metade de um apartamento em São Paulo e os valores dos condomínios são baixissimos, comparados com os dos Brasil.
            As  escolas portuguesas de engenharia e de arquitetura correm o risco de fechar porque a construção civil parou, não se sabe por quanto tempo.
            Como já escrevemos aqui, um brasileiro que mande um filho estudar em Portugal ganha um apartamento de brinde se o comprar com a diferença do valor das prestações devidas à escola.
            Todas estas razões justificavam que o governo invertesse a lógica da internacionalização e chamasse a atenção para estes atrativos em vez de, irresponsavelmente, mandar emigrar os empresários a quem o esgotamento do crédito bancário e a recessão conduziram à falência.

Fortaleza, 5 de agosto de 2012