quinta-feira, janeiro 29, 2009

Porque não fechar as bolsas?

A crise está a crescer e os cidadãos estão a ser enganados todos os dias.
Não há quaisquer dúvidas de que a podridão que se agrava todos os dias está nos mercados financeiros, que sorvem, de forma desmesurada, os recursos que deveriam ser alocados ao funcionamento da economia real.
A pergunta que urge fazer é esta: porque não fechar as bolsas, ao menos temporariamente, a começar por uns seis meses?
É claro que as empresas nada ganham com o mercado bolsista. Quem ganha ou perde são apenas os jogadores, que ali procuram obter mais proveitos do que obteriam nas normais distribuições de dividendos.
Fechar as bolsas não significa que quem tem os títulos não possa continuar a vendê-los, se encontrar comprador.
O que é inadmissível é que o grosso dos recursos dos cidadãos e das empresas seja como que confiscado pelo sistema financeiro para apoiar esse jogo.
E ainda mais inadmissível é que os governos muitas pessoas responsáveis apelem à poupança, quando deveriam apelar ao consumo, para que a economia continue a girar.
É muito preferível que nos endividemos, consumindo mesmo para além das nossas posses, para que a economia não pare, do que poupemos, para ajudar as instituições financeiras a tapar os buracos que os especuladores abriram nas suas contas.
Se os bancos tiverem que falir, porque não hão-de falir?
Criam-se outros, de bases sólidas, que tenham o juizo suficiente para não se envolver nessa jogatina que já confiscou o nosso futuro colectivo, com esta sovietização crescente que ameaça o futuro da Europa.
É, literalmente, um escândalo que os governos apliquem biliões para salvar os especuladores, ao mesmo tempo que se calam perante o efeito reflexo das suas políticas, deixando falir empresas que só não são viáveis, porque a economia está a parar e não tem saída o que se fabrica.
Todos deveriamos mudar de automóvel para que a indústria automóvel não pare. Errado é que os governos financiem as paralizações, destruindo os fundos de protecção do emprego e inviabilizando a compra do dito a preços decentes, porque os preços vão subir pelo menos na mesma medida em que os custos médios vão aumentar, em razão da baixa da produção.
É importante que comecemos a questionar uma série de coisas que são absolutamente injustas.
Quem é que será responsabilizado pela alocação de dinheiros públicos a projectos de recuperação de empresas se esses projectos falharem?
Porque é que se apoiam com dinheiros públicos empresas dificilmente viáveis, com apoias per capita ques seriam suficientes para salvar nalguns casos cinco ou mais vezes os postos de trabalho?
Que critérios podem justificar o apoio a algumas empresas quando outras abrem falência por causa de uns trocos que não conseguem alcançar?
Que selva é esta em que nos estão a envolver?

quarta-feira, janeiro 21, 2009

A inauguração de Barak Hussein Obama

Assisti ontem - como quase toda a gente do Mundo - à inauguração de Barak Hussein Obama, um preto claro que teve a ousadia de se candidatar à presidência dos Estados Unidos e que obteve uma fantástica vitória.
Para um democrata, como eu sou, não me espanta que um homem com pigmentos negros possa ser eleito para chefiar um estado.
O que me choca é que o facto de o homem ser castanho claro seja aproveitado para extrair conclusões despropositadas, como é essa de que ele mesmo significa o termo do racismo.
Nada de mais errado, sendo que a própria invocação não passa de uma afirmação de racismo encoberto, não fossem os homens, por natureza, iguais em igualdade e direitos.
Lembra-me tal postura a dos homens traídos, que, de cornudos, passam de um dia para o outro a liberais...
É indiscutível que o homem é simpático e que tem jeito para o papel que se lhe exige, ao menos neste momento, que é o de comunicar uma mudança e o de incutir esperanças nos Estados Unidos e no Mundo.
Li as «Reflexões sobre a Reconquista do Sonho Americano» e «A Audácia da Esperança». Acompanhei a campanha eleitoral desde o primeiro momento e coleccionei alguns dos discursos do novo Presidente americano.
Fiz algumas incursões nos seus trabalhos na Harvard Law Review. A ideia com que fiquei é a de que se trata de homem inteligente e trabalhador e de um jurista com um extraordinário sentido de oportunidade e de ousadia, como conhecemos tantos.
Não contém, porém, os seus escritos nada de extraordinário no plano do pensamento sistemático nem da filosofia política.
O grande mérito de Barak Obama está, em minha modesta opinião, no facto de ser um homem extremamente bem informado e um fabuloso comunicador.
A primeira qualidade permitiu-lhe posicionar-se na corrida política com argumentos que outros, menos preparados, não tinham. A segunda, associada a uma extraordinária gestão da comunicação, permitiu-lhe ganhar o eleitorado, ao cabo da mais sofisticada campanha política que alguma vez se viu sobre a terra.
Barak Obama teve a sorte de entrar na corrida política num momento em que a América está falida e em que os interesses que apoiaram as duas presidências de G. W. Bush apostam no branqueamento do que de mais grave se passou nesse dois mandatos.
Se não fosse ele, haveria de ser outro.
Nunca ninguém teve a coragem de apontar Dick Cheney como um corrupto. Um dia antes da tomada de posse de Obama ele tomou café com Barak e G.W. Bush, numa cadeira de rodas, porque, alegadamente, sofreu ontem uma lesão nas costas enquanto carregava caixas durante a mudança para sua nova casa. Passadas algumas horas, os comentadores que estavam calados, já falavam dele como o bode expiatório das contratações de mercenários e do desaparecimento de dinheiro na campanha do Iraque.
Uma missa, um juramento sobre a Bíblia de Lincoln, dois milhões de pessoas na rua, uma cordial despedida de G. W. Bush, uma festa imperial, com bailes de mil e uma noites para todas a classes, ofuscaram todo o demais noticiário do dia, numa campanha global extraordinária, de que nunca se viu igual.
A América está na bancarrota, mas tem o Mundo aos seus pés, com os principais dirigentes – entre os quais os que adularam Bush – a considerar Barak Hussein Obama como uma grande lider, apesar de ele não ter dado ainda qualquer prova da sua efectiva liderança.
Tudo extremamente bem preparado e encenado ao segundo.
Quando hoje ouvimos na televisão o mestre de cerimómias a anunciar «the president of the United States», já tinhamos o anúncio, com o mesmo tom de voz, gravado na memória, porque nos massacraram com o treino da mesma criatura, ao longo das últimas duas semanas.
A sensação que me fica, depois da estrondosa encenação a que todos assistimos, é a de que muitas outras pessoas, com os mesmos meios, poderiam fazer o mesmo.
Um outro talentoso americano, Edward Regan, mais conhecido por Eddie Murphy, não desempenharia pior o papel, até porque, em matéria de comunicação, não é menos simpático nem menos fotogénico do que o Presidente ontem inaugurado, como se fosse uma ponte ou uma estação de caminho de ferro, com a presença de mais de dois milhões de americanos.
Mais importante do que o acto inócuo da posse do novo Presidente dos Estado Unidos, foi a fantástica operação de manipulação a que todos fomos sujeitos, por um exército de jornalistas sem vergonha e por uma América que tenta a todo o transe com o momentâneo fausto, o estado de falência em que se encontra.
O que nos tentaram vender, em todos os canais, é que Obama é o nosso Chefe, o nosso líder e a nossa salvação, quando é certo que ele não passa do Presidente dos Estados Unidos.
O discurso da posse não tem nada de novo nem de extraordinário nem trouxe nada de novo. Pessoalmente não acredito que nada de especial mude com a eleição deste novo Presidente da América, por mais simpático e imaginoso que ele seja.A ideia que nos fica no fim do dia de hoje é que ele não passa de um «strawman» dos mesmos interesses que sustentaram as anteriores administrações e que pagaram as festas.
Nada de substancial vai mudar na América. Como nada de especial mudou com John Kennedy.Os interesses americanos são os interesses americanos. E Barak Hussein Obama tem a consciência de que a sua sobrevivência passa pela respectiva defesa.
Tal como o seu compatriota Edward Regan, Barak Hussein Obama é um «showman». Depois do talk show que nos ofereceu à margem do baile de gala, que nenhum branco conseguiria fazer com tamanha naturalidade, vamos esperar as cenas dos próximos capítulos.