quinta-feira, setembro 20, 2007

Edmundo Pedro de surpresa no Tarrafal

Edmundo Pedro, antifascista e antigo preso político, soube que a ministra da Cultura ia estar três dias a visitar a ilha de Santiago, Cabo Verde, e meteu-se no mesmo avião para a acompanhar no dia que fosse ao antigo campo de concentração do Tarrafal. Pagou do seu bolso uma viagem e estada para ir dizer que é preciso não deixar que a colónia penal fique abandonada, que deve ser construído ali um museu da resistência, e chorou quando recordou os quase 10 anos amargos que lá passou.
A iniciativa deste homem, de 89 anos, apanhou de surpresa a comitiva de Isabel Pires de Lima, que só soube do acompanhante já no avião de Lisboa para a Praia, capital de Cabo Verde.
Agastado com o alto preço da viagem, Edmundo Pedro era ainda assim um homem convicto, à chegada, como de resto foi toda a vida.
"Quero aproveitar a presença da ministra para a sensibilizar. Quero que ajude a preservar algo que faz parte da história contemporânea, que ajuda a caracterizar o antigo regime e que está cada vez mais esquecido", disse.
Edmundo Pedro tem um sonho: fazer da antiga colónia penal do Tarrafal, mandada construir por Salazar para alojar presos políticos e que funcionou entre 1936 e 1954, num museu, porque "o que lá está agora é uma caricatura de museu".
Na Cidade da Praia, o antigo "tarrafalista" foi recebido pelo Presidente da República, Pedro Pires, de quem é amigo e com quem comunga da mesma ideia: o Tarrafal, agora apenas o que resta dos edifícios e um pequeno centro de interpretação, à entrada, que explica como funcionou a prisão, deveria ser transformado num centro de convívio da CPLP, um local de amizade e um museu a sério, com testemunhos e objectos que fizeram a história do campo de concentração.
Preso por ser do PCP, hoje filiado no PS, Edmundo Pedro diz também que toda a herança do Tarrafal tem sido monopolizada pelos comunistas e adianta que o campo de concentração tem de ser visto numa perspectiva nacional e não partidária.
E se Pedro Pires quer promover, em Cabo Verde, um grande fórum sobre campos de concentração que o faça depressa. E se querem fazer um museu a sério que seja rápido. Edmundo Pedro tem muitos documentos e até a cópia de uma máquina de cortar tabaco feita por Bento Gonçalves, antigo secretário-geral do PCP que morreu no Tarrafal. Mas ele, Edmundo Pedro, tem também 89 anos e a certeza que poucos lhe restam para "contribuir para que a memória do Tarrafal não se apague".
Mas não parece. Quando, com os ministros da Cultura de Portugal e Cabo Verde atravessa o portão de entrada do campo é como se voltasse a ter outra vez 17 anos, a 1936.
Num desenho do campo dessa altura aponta a segunda tenda de uma fila dupla, como sendo a sua (antes dos pavilhões terem sido construídos). Depois, na antiga cozinha, lembra o dia em que se reuniram ali 140 homens, a preparar uma fuga em massa, enquanto ele vigiava os guardas, ainda assim não impedindo que fossem descobertos e a tentativa abortada.
Cá fora, ao sol, recorda a fuga mais espectacular e rocambolesca que protagonizou com o pai e mais três companheiros. A tentativa de fuga de barco, a perseguição, as peripécias, até serem apanhados finalmente.
Edmundo Pedro conta tudo com pormenores, incluindo o castigo, 70 dias na "frigideira", uma construção sem janelas onde os presos quase "fritavam". "Chegava aos 50 graus", recorda, como recorda que estiveram três dias sem beber e que quando lhe deram um balde de água também não puderam matar a sede "porque a língua tinha inchado de tal maneira que ocupava a boca toda".
Depois lembra a tentativa de suicídio do pai, as mortes frequentes de presos (assistiu a 32 óbitos) ou aponta o local dos ganchos onde eram atados os presos para serem chicoteados.
"Tenho uma recordação muito viva e trágica: foi a morte da minha grande referência ainda hoje, um grande amigo." Debaixo de uma árvore, Edmundo Pedro volta a ter 89 anos quando lembra a convivência, ali, com Bento Gonçalves.
"Chorávamos pelos que se iam embora e até por nós. Eu via passar os anos, via morrer os meus companheiros. Tive momentos em que chorei, às escondidas do meu pai. Mas é natural que se chore." E por ser natural, 71 anos depois, 65 anos e dois dias depois da morte de Bento Gonçalves, Edmundo Pedro voltou a chorar no Tarrafal. Pelos que morreram mas também por ele.
in Especial Lusa/DN

quarta-feira, setembro 19, 2007

Reclamação à Blogger

Li atentamente os termos do serviço e não encontrei fundamento para o autêntico «roubo» de identidade que se processo relativamente ao endereço deste blog.
Há milhares de pessoas que conhecem o endereço http://portugalglobal.blogspot.com . Ninguém conhece os que, sucessivamente, alguém colocou para albergar os textos que vimos escrevendo.
Milhares de pessoas fixaram portugalglobal antes da extensão blogspot. Há milhares de «favoritos» guardados nos computadores de quem referenciou textos aqui publicados. E há milhares de links nas páginas que nos citaram.
Esses links remetem agora para uma página com outros conteúdos, marcada por interesses publicitários que vão desde a promoção de preservativos até serviços.
Por isso pedimos esclarecimentos à Blogger, a quem ainda damos o benefício da dúvida...

sexta-feira, setembro 14, 2007

Afinal não é assim...

Afinal não é assim...
O novo endereço é http://portugalglobal6.blogspot.com/
O original é http://portugalglobal.blogspot.com .
Alguém ocupou este espaço...

Curiosidade...

Não consigo compreender porque razão este blog foi forçado a hibernar, passando o seu conteúdo a figurar em http://portugalglobal5.blogspot.com .
Há coisas estranhas no Blogger...
Mas hoje parece que, em vez de um blog publicitário, se acede ao que vem acumulado aqui, há vários anos...